O que a geração Z pode nos ensinar sobre educação e marketing?

Amanda Fonseca
6 min readNov 7, 2019

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Os insights de uma geração hiperconectada podem nos ajudar (e muito) a evoluir

As pessoas nascidas entre 1995 e 2010 representam 20% da população brasileira. Os Z’s são o grupo que está substituindo os millennials (1980–1995) nas tendências e hábitos online e despertando cada dia mais a atenção do mercado.

“Os jovens da geração Z são mais realistas e pragmáticos do que os millennials. Eles também não podem ser definidos por rótulos, são mais tolerantes e abertos ao diálogo e levam as coisas com mais humor e leveza, já que não sentem carregar nas costas o peso de mudar o mundo”, afirma Tracy Francis, sócia responsável pelos setores de bens de consumo e de varejo da consultoria McKinsey na América Latina, uma das responsáveis, junto com a consultoria Box1824, por um estudo em 2017 sobre esta geração.

Ainda de acordo com a pesquisa, os Z’s têm uma característica essencial para entendê-los: foram os primeiros a nascer em um mundo online e móvel e retomam o engajamento social de gerações anteriores. “Nasceram com tudo a um clique e não veem muito sentido nas barreiras entre online e offline”, diz Rony Rodrigues, presidente da Box1824.

Fazendo um recorte por idade no próprio grupo, vemos dados interessantes da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018, publicada em setembro de 2019 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil: 24,3 milhões de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos usam a internet, o número corresponde a 86% desta faixa etária e chega a ser maior que a média da população brasileira em geral conectada à rede (70%).

Se educação é conteúdo, tecnologia é meio e não fim

Você disse folha de almaço? Nunca nem vi.
Você disse folha de almaço? Nunca nem vi.

O estudo citado acima também revela que 74% desses jovens e crianças usam a internet para pesquisa e trabalhos escolares, mais da metade (53%) lê ou vê notícias online e 66% é motivada pela curiosidade ou vontade própria na hora de realizar pesquisas online. Mas será que as escolas estão atentas a esses hábitos? Parece que não muito. O uso da internet em sala de aula chega a 40% em todo o país. Não é difícil imaginar os motivos desta disparidade. A educação formal no Brasil ainda é um desafio por conta de diversos problemas sociais, estruturais e políticos. Tentar acompanhar os avanços tecnológicos parece ficar em segundo plano.

Um artigo da Forbes listou 8 caminhos para a tecnologia melhorar a educação. Entre eles, o uso de vídeo games é visto como uma ótima fonte de entretenimento e engajamento para todas as pessoas — uma forma não usual de incentivo à aprendizagem. E já existe até um termo para isso: a gamificação. Além disso, deixar os jovens ensinarem os mais velhos como usar a tecnologia é outra direção apresentada. Afinal, quem melhor do que aqueles que nasceram com ela para ensinar outras gerações?

Este caminho pode levar à assimilação de novos conceitos e lições por parte dessas crianças e adolescentes enquanto essa troca de conhecimento acontece. Vale destacar também que a tecnologia é um recurso complementar. O texto deixa claro que ela deve ser usada sempre com moderação e adequação. Ou seja, é preciso ter propósito.

Outra lista bem interessante é a de “5 Prioridades para a Internet e Educação” feita pela Internet Society. A organização global foca em aspectos sociais para explicar como a internet está mudando a educação, e por outro lado, o quanto a falta de acesso a ela pode aumentar o gap entre gêneros, classes e raças em relação ao conhecimento e oportunidades. A quinta prioridade merece atenção especial, ela fala sobre conteúdo e dispositivos de acesso:

Uma das diferenças mais dramáticas que a internet pode fazer consiste em abrir o acesso a uma gama mais ampla de conteúdo para ensino e aprendizagem — conteúdo explicitamente educacional e uma variedade muito maior de conteúdo online que pode complementar os currículos. Em vez de confiar principalmente em livros didáticos, os professores podem direcionar os alunos para muitas fontes diferentes e os alunos podem desenvolver habilidades de pesquisa explorando o conteúdo online por conta própria[…].
Até recentemente, a internet era acessada principalmente por computadores, que não eram [economicamente] acessíveis para a maioria das pessoas na maioria dos países.
No entanto, o acesso a telefones celulares que podem ser usados ​​para acessar a internet desempenhou um papel importante na expansão do acesso à internet e como um novo meio de promover a criatividade.

Seu filho/primo adolescente provavelmente tem perdido horas do dia dele por aqui

Já ouviu a palavra do TikTok?

O falecido Musical.ly. foi criado em 2014 com a ideia de permitir a publicação de vídeos curtos com transmissões de lip sync, o famoso e velho playback. Assim, com essas performances, ele se popularizou. Ano passado, a Bytedance, startup com maior valor de mercado do mundo, comprou o aplicativo por US$ 1 bilhão. Com uma ação de rebranding, ele se tornou a plataforma de vídeos TikTok.

Muito popular na China, onde é conhecido como Douyin, e na Índia, com mais de 120 milhões de usuários, o TikTok está se tornando um queridinho dos jovens ocidentais. Disponível em mais de 150 países e em 75 idiomas, já chegou a mais de 1 bilhão de downloads no mundo em 2019. E a geração Z tem grande responsabilidade neste sucesso: 66% dos usuários têm menos de 30 anos.

Um anúncio neste mês de outubro revela o foco da empresa neste público e como ela está buscando alternativas para não cair no esquecimento (Snapchat que o diga). Aliás, a notícia diz muito sobre suas intenções de se tornar mais do que entretenimento.

A TikTok quer entrar no setor da educação com o programa #EduTok, “uma iniciativa integrada multifásica com o objetivo de democratizar o aprendizado para a comunidade digital indiana”, segundo comunicado da empresa.

Do aprendizado online para o offline, com o #EduTok Mentorship, a marca está colaborando com empresas de caráter social para criar um projeto de orientação. A missão é apoiar usuários iniciantes da internet a adquirir conhecimento por meio da descoberta de conteúdo educacional feito pelos criadores e organizações do TikTok.

Se os Z’s são conectados, os Alpha (nascidos a partir de 2010) são a primeira geração de nativos digitais. Se quiser conquistá-los no futuro, a hora da sua marca investir é agora.

E o que minha marca tem a ver com isso?

Quem trabalha com marketing digital e de conteúdo já deve ter entendido que tudo tem a ver com relevância. Não basta ter uma presença online, esta presença precisa se justificar e ir além da intenção de vender. E isso vai de encontro com o perfil da geração Z.

Este grupo está ressignificando o consumo, eles estão pensando mais em valor do que em posse, mais na expressão da própria singularidade do que na busca por pertencimento. E eles não buscam isenção, pelo contrário, querem marcas que se posicionem sobre causas relevantes.

Quer causa mais relevante que a Educação? Se a sala de aula parece não aceitar tanto a colaboração, na internet este grupo pode criar comunidades, compartilhar, colaborar e o feedback é instantâneo. Que tal se sua marca fizer parte disso?

Este texto foi publicado originalmente pela Agência Cative! e faz parte de uma colaboração minha com este time de mulheres especialistas em comunicar o propósito de marcas visionárias e humanizadas.

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Amanda Fonseca

jornalista, feminista, impulsiva, sincerona. Meu medo é não poder mudar de roupa, de cabelo, de lugar e de opinião.