Quem foi Simone Veil?

Amanda Fonseca
3 min readJul 21, 2017

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Simone Veil discursando no Parlamento francês - AP Foto — Arquivo Eustache Cardenas

Simone Veil faleceu no dia 30 de junho em Paris, aos 89 anos. Segundo um artigo do jornal Le Monde, ela é “um ícone da luta pelos direitos das mulheres”. Eu não posso discordar. Francesa e judia, sobrevivente do Holocausto. Veil era um símbolo da política francesa e parte importante da história do século XX.

Nascida em 1927 em Nice. Em 1971, com mais de 340 mulheres, ela estampou a capa da revista Le Nouvel Observateur ao lado de uma declaração polêmica: todas já tinham abortado. Embora chamado pelos críticos de“o manifesto das 343 vagabundas”, o movimento que seguiu sua publicação conduziu o processo de criação da lei (“Lei Veil”) que descriminalizou o aborto na França. Simone Veil era ministra da Saúde desde 1974, foi ela quem defendeu a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez no parlamento francês, diante de uma maioria de homens.

“Nós não podemos fechar os olhos para os 300 000 abortos que ocorrem todo ano, que mutilam as mulheres desse país, que violam nossas leis e humilham ou traumatizam aquelas que têm que recorrer a eles”, afirmou em seu discurso. O ano seguinte, 1975, o texto entrou em vigor. Atualmente, países como Canadá, Cuba, Uruguai, África do Sul e China, entre outros, têm leis similares.

Quatro anos depois dessa realização, Simone se tornou a primeira presidente do Parlamento Europeu, eleita por sufrágio universal. Ela exerceu essa função até 1982, mas continuou como membro até 1993. Politicamente ativa, nos anos 90, Veil também foi ministre de Assuntos Sociais e Saúde do governo de Édouard Balladur, ela presidiu o Alto Conselho de Integração e se integrou ao Conselho Constitucional da França. Partidária do europeísmo, em 2005, ela ganhou o prêmio Príncipe das Astúrias de cooperação internacional em reconhecimento das “ideias e realizações de uma Europa unida e a projeção dos valores europeus ao resto do mundo”.

Mesmo se ela foi ligada a causas sociais, por exemplo, os direitos das mulheres e a memória do Holocausto, Simone Veil apoiou candidatos à presidência de direita em sua trajetória profissional, inclusive Nicolas Sarkozy. Ela também foi membro do partido de centro-direita UDF durante dois anos. Esses fatos podem ser vistos como uma contradição. No entanto, essa possível contradição não invalida a importância de Veil, nem sua importância para o feminismo. Em uma entrevista feita em 1999 à estação de rádio France Culture, ela disse:

“ “Diz-se sempre que eu sou a mulher álibi. Me usam de exemplo, dizendo ‘Veja, ser mulher não a impediu de…’. Mas eu sou um caso excepcional, tive uma trajetória peculiar, principalmente pelo fato de ter participado de muitas conferências internacionais, de ter estado no Parlamento Europeu e presidido o Parlamento Europeu, o fato de ter tido uma chance (…) para mim, as mulheres na França estão longe de ter o que elas deveriam ter.”

Infelizmente, essa afirmação continua atual: as mulheres do mundo inteiro ainda estão longe de ter o que elas deveriam ter e por causa disso, a luta não pode parar. Seguimos o modelo de grandes mulheres para que um dia todas possam ser consideradas dessa maneira!

Texto publicado originalmente no Blog Je suis Féministe https://jesuisfeministe.com/2017/07/17/qui-etait-simone-veil/

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Amanda Fonseca

jornalista, feminista, impulsiva, sincerona. Meu medo é não poder mudar de roupa, de cabelo, de lugar e de opinião.