Nosso amor próprio não depende dos homens

Amanda Fonseca
3 min readJun 15, 2017

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Feminista Jones é uma assistente social, escritora e claro, feminista, da Philadelphia. Posso dizer que eu não a conhecia até ler um post no Buzzfeed que me intrigou. Tudo começou quando Jones fez um tweet com a seguinte frase: “Piss a man off today: tell him you agree with his compliment of you” (Irrite um homem hoje: diga a ele que você concorda com o elogio que ele te fez). Aliás, tudo começou quando ela resolveu testar essa teoria.

Segundo ela, vários homens se sentem bastante incomodados quando você aceita o que eles dizem sobre você. Para alguns homens, você concordar com um elogio é ofensivo demais. Isso não é absurdo? É, talvez, mas para mim faz total sentido. Se analisarmos as raízes do machismo, entendemos que sua base está relacionada a uma suposta superioridade masculina, em todos os quesitos. Há diversas consequências desse pensamento, inclusive em relação à nossa autoestima. Nós crescemos com a ideia de que não somos tão capazes de exercer certas funções no mercado de trabalho, não temos força suficiente, não deveríamos ser mais inteligentes que nossos parceiros ou que temos que fazer de tudo para agradá-los. Assim, essa aprovação masculina, que deveríamos procurar no dia a dia, faz com que o amor próprio seja visto com maus olhos. Não deveríamos nos amar antes que um homem faça isso. Afinal, se um homem te elogia, isso é quase um favor, você conseguiu conquistá-lo, apenas aceite e sinta-se surpresa.

Isso me lembra algumas músicas. Músicas que à primeira vista não parecem machistas. Elas não falam sobre violência, submissão ou abuso como algo aceitável. São canções que fazem elogios às mulheres. E isso é bom, né? Depende. Exaltar as qualidades de alguém é positivo. Mas não é saudável quando isso é feito com uma carga de autoridade. Se nós pegarmos uma parte da definição de mansplanning, em outras palavras, quando um homem acredita que precisa ensinar uma mulher sobre determinado assunto, nós podemos compreender o que eu quero dizer. Letras pops como Just the way you are — Bruno Mars; Let me Love You — Ney-o ou Little Things — One Direction falam sobre isso. São homens dizendo que mesmo que essas mulheres não acreditem na própria beleza, não importa, eles acreditam e isso basta. Quem precisa de amor próprio quando um homem pode nos dizer o quanto nós somos maravilhosas ou que tudo que fazemos é ótimo?

Isso é algo tão perverso. Todas nós já devemos ter passado por algum momento em que refletimos sobre certos comportamentos, porque não queríamos ser julgadas por um homem, mesmo se essas atitudes estivessem nos fazendo bem. Ou até mesmo a situação inversa, continuamos com comportamentos autodestrutivos, porque isso está agradando um outro alguém. Algo mais preocupante ainda. É preciso rever toda essa relação entre amor próprio, machismo e elogios. Até porque, se pararmos para pensar no cenário da música pop, ele influencia muitas adolescentes, mentes e corpos em formação da própria identidade. E eu não gostaria que essas meninas crescessem com a ideia de não poderem se achar bonitas, porque isso incomoda um homem ou só se acharem bonitas quando um homem lhes disser isso. Eu quero que essas meninas escutem um elogio e digam para elas mesmas: É, eu sei!

Texto original: https://jesuisfeministe.com/2017/06/14/notre-amour-de-soi-ne-depend-pas-des-hommes/

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Amanda Fonseca

jornalista, feminista, impulsiva, sincerona. Meu medo é não poder mudar de roupa, de cabelo, de lugar e de opinião.