Minha sinceridade me faz parecer louca?

Amanda Fonseca
3 min readAug 24, 2017

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Desde a minha infância, eu sou uma pessoa que não sabe mentir. Quando eu tento, meu olhar pode facilmente me trair e meu raciocínio se confunde. Eu penso que se eu busco a consideração e a verdade nos outros, eu devo a eles o mesmo. Meu lema: Say what you need to say, se tornou uma tatuagem no meu braço direito. Meus amigos sempre dizem que eu sou autêntica, que eu compartilho minhas opiniões e isso é uma coisa boa. Mas como minha mãe, eles acreditam que às vezes eu posso ser grossa. É! Eu posso ser grossa. Mas louca?

Mesmo que ninguém nunca tenha me chamado assim, é como eu me sinto quando minha sinceridade é dirigida a um homem, principalmente quando eu compartilho minha insatisfação sobre o comportamento dele ou quando eu demonstro minhas intenções com ele. No Brasil, nós costumamos usar o termo DR (discutir a relação) para dizer que queremos falar sobre nossa relação com alguém. No entanto, isso é visto como algo negativo, principalmente pelos homens. Nós, mulheres, somos conhecidas por amar uma DR.

Na minha mente, é simples: se existe uma coisa que te incomoda, você deve falar com a pessoa que está diretamente envolvida com isso. Para mim, não importa qual é o relacionamento amizade ou amor, nada funciona sem conversa. Porém, vários homens não parecem estar abertos ao diálogo, menos ainda sobre suas intenções.

Eu nunca tive um namorado, mas quando eu estou emocionalmente envolvida com um cara e me incomodo com o modo como ele me trata, minha primeira reação é falar sobre, para tentar compreender e resolver o problema. E eu tomo muito cuidado para não exigir nada além de consideração e franqueza. Mas a resposta parece sempre a mesma: “Eu não sei do que você está falando” “Tá tudo bem” “Desculpa qualquer coisa”. É como se fosse um texto pronto, copiado e colado, sem contar as vezes que eu sou totalmente ignorada.

No fim, eu não tenho resposta e me sinto louca. Eu deveria me sentir assim? Eles que são incapazes de resolver um problema e preferem ignorá-lo.

Assim, eu vivo com um dilema: ser sincera ou esconder meus sentimentos? A verdade é que eu sempre escolho a primeira opção. O dilema pode não parecer uma questão feminista à primeira vista, e por este motivo que eu quis escrever sobre. Essa situação é vivida por outras mulheres. Eu falo com minhas amigas e eu sinto isso. Para muitos homens, nós somos sempre “as loucas”, expressar nossos sentimentos e nossas opiniões sobre a relação é como um certificado de loucura. Isso é perverso.

Cada vez que eu me aproximo de alguém, eu acabo preferindo meus cachorros. Mesmo que eles não falem, eu compreendo melhor o que eles pensam, eles se expressam! Se me disserem que eu sou louca por isso, eu até aceito. Mas por ser sincera?! Ah, não, não sou obrigada!

Esse texto foi originalmente publicado no blog:
https://jesuisfeministe.com/2017/08/24/ma-franchise-me-fait-elle-paraitre-folle/

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Amanda Fonseca

jornalista, feminista, impulsiva, sincerona. Meu medo é não poder mudar de roupa, de cabelo, de lugar e de opinião.